Por mais de uma década, o termo blockchain deixou de ser exclusividade do universo das criptomoedas e passou a ocupar um espaço de destaque em discussões sobre inovação, segurança digital e transformação econômica. O que começou como a base tecnológica do Bitcoin em 2008, hoje se consolida como uma das principais apostas para modernizar mercados especialmente em países com menor acesso bancário e estruturas regulatórias mais frágeis.
Na prática, a tecnologia é uma cadeia de blocos, onde cada sistema possui um registro descentralizado que permite armazenar e validar informações com alto nível de segurança e transparência. Cada “bloco” guarda um conjunto de dados, como transações financeiras, contratos ou movimentações logísticas, conectando-se de forma cronológica e imutável ao anterior. O modelo elimina a necessidade de intermediários e garante visibilidade em tempo real para todos os participantes de uma rede.
“É como se fosse uma planilha online compartilhada por milhões de pessoas, onde todas as transações são visíveis e rastreáveis. Isso traz confiança, elimina duplicidades e reduz a burocracia”, explica Denise Cinelli, COO da CryptoMKT, uma das principais plataformas de criptoativos da América Latina.
A blockchain se divide, essencialmente, em dois tipos: redes públicas e privadas. As públicas, como as do Bitcoin e do Ethereum, são abertas a qualquer pessoa e operam de forma totalmente descentralizada. Já as privadas são desenvolvidas para uso interno de empresas ou consórcios, com acesso restrito e regras específicas de governança. Embora atendam a propósitos diferentes, ambas as modalidades oferecem vantagens relevantes e podem se complementar em ambientes híbridos.
No universo das fintechs, a tecnologia tem contribuído para acelerar processos, reduzir custos operacionais e ampliar o alcance de serviços financeiros. “Com os contratos inteligentes, conseguimos automatizar pagamentos, empréstimos e investimentos sem a necessidade de um banco intermediando. Isso é transformador para regiões onde a inclusão financeira ainda é um desafio”, afirma Cinelli.
A adoção da blockchain também cresce em setores como o de logística. Ao registrar cada etapa da cadeia de suprimentos em blocos digitais, empresas ganham rastreabilidade em tempo real, o que melhora auditorias, previne fraudes e permite automatizar ações como a liberação de pagamentos após a confirmação de entregas. “Em países com fronteiras complexas e processos manuais, como os da América Latina, isso se traduz em eficiência, competitividade e ganho de escala”, diz a executiva.
Além de seu impacto prático, a blockchain também representa uma mudança filosófica sobre como lidamos com a confiança. Se antes a verificação de uma transação dependia de uma instituição central, hoje ela pode ser realizada por consenso coletivo e regras codificadas.
“Estamos vivendo uma transição em que a confiança não está mais concentrada em uma única entidade, mas distribuída entre os usuários e validada por código. Isso devolve às pessoas o controle sobre seus dados, ativos e decisões”, destaca Valdivia.
A executiva da CryptoMKT defende que essa descentralização tem o potencial de estruturar uma economia mais justa e acessível. “A blockchain não é apenas uma tendência tecnológica. É a base de uma nova economia — mais segura, transparente e colaborativa”.