"Uma cultura regenerativa é aquela que permite a contínua renovação da natureza. Ela acolhe a simplicidade, celebra os movimentos, reconhece que a mudança faz parte da vida, honra a diversidade e abre espaço para o novo, sem deixar para trás a sabedoria ancestral." A definição acima, criada pelo coletivo Futuro Possível, mostra que há sim uma forma de viver com mais sabedoria no planeta e transformar as relações humanas para que se integrem com toda a natureza. Aqui, conversamos com as integrantes da plataforma, Lua Couto, Anna Denardin, Maria Clara Parente e Thais Mantovani para entender mais sobre o conceito. O objetivo? "Promover colaboração e a criação de novas narrativas acreditando que o futuro é uma história escrita por muitas mãos."
O que é o Futuro Possível?
É um coletivo multiplataforma que potencializa outras vozes e dá espaço às pessoas que estão vivendo um processo de transformação. Por lá, a ideia é mostrar que existem outras realidades e contextos ligados a maior valorização do planeta e de um modo de viver que promova bem-estar para todos e não somente para os seres humanos. "A ideia é passar que somos todos natureza e que a Terra deve ser um lugar de qualidade", explica Thais.
Para fazer isso, o grupo promove educação, diálogo e reflexões sobre biologia, regeneração e as relações que envolvem a natureza e a espiritualidade. "Somos uma semente que diz que é possível regenerar o planeta, as relações humanas e a nossa relação com a gente mesmo. Acreditamos também que, a partir dessas relações, podemos criar futuros possíveis para todo mundo", diz Lua.
Agente de transformação do planeta, eu?
Sim! É que para as idealizadoras do coletivo, todas as pessoas e coisas estão ligadas e para que aconteça de fato uma transformação benéfica para o planeta e todos que nele vivem, é preciso agir como comunidade. "A ideia é trazer luz aos problemas que a gente está vivendo em um mundo que quer morrer e em outro que precisa nascer", conta Thais.
Para se tornar um agente transformador, no entanto, é preciso entender e estudar o que outros agentes, que vieram antes e possuem mais conhecimento, fizeram. "Eles são pessoas que são faróis e mostram que é possível viver de outra maneira e que existem outros caminhos. São essas ideias que compartilhamos", explica Lua.
"Mostramos que tem tanta gente fazendo isso há tanto tempo e que é normal e comum", pontua Maria. "A gente quer não só mostrar quem está fazendo, mas também trazer mais pessoas e apresentar o conteúdo a quem nunca ouviu falar. É unir todos em uma comunidade", conclui Anna.
A sustentabilidade, como conceito utilizado atualmente, consiste em sustentar as relações para que tudo aquilo que seja ruim ao meio ambiente tenha, de alguma outra forma, uma reposição benéfica. Em uma empresa, por exemplo, se ela emite gases poluentes, também planta árvores para contribuir, mas, de acordo com o Futuro, essa medida não é suficiente.
"A gente chegou em um nível em que essa ideia não se sustenta. É como se o capitalismo tivesse sugado a sustentabilidade. A ideia em si é legal, mas se o que deve ser sustentado é um modo de vida inviável, não dá. O que vemos hoje, no senso comum, é sobre sustentar a modernidade, com seus vícios, consumos e validações", explica Maria. "A regeneração vem para falar que a gente precisa devolver mais e pensar em novas de formas de se relacionar com o outro", completa.
Já sobre a regeneração: "Chegamos em um nível de destruição planetária que não dá mais para sustentar e é preciso dar de volta", diz Thais. "A ideia de regeneração é como criar mais espaços e condições de vida. Se eu não crio isso, sou degenerativo. É impossível fazer sustentabilidade dentro de um sistema que agride a natureza", finaliza Lua.
Tudo tem a ver com espiritualidade
Ao longo do processo de se entender como alguém que pode transformar o planeta, é preciso se autoconhecer e repensar sua relação com espiritualidade. "A gente acredita que a primeira desconexão que aconteceu é da gente com a gente mesmo. Então quem sou eu em essência? Quando a gente fala de espiritualidade na regeneração, a gente está falando de quem somos nós em relação ao planeta", diz Lua.
É um processo que vem de dentro e é como uma autoinvestigação. "Precisamos de uma sustentação interna. Emocionalmente, por exemplo, ficamos fragilizados e adoecidos quando olhamos os estragos que produzimos. A espiritualidade parte do lugar de quem eu sou, mas vai para tudo o que fazemos, é uma lente de compaixão e generosidade. A gente começa a repensar nossos valores internos e não os que o mundo quer que a gente tenha. Quanto mais a gente se conhece, mais se regenera", completa.
"A espiritualidade ocasiona na gente isso de conseguir se enxergar como parte de um todo, como uma teia ou linhas que se encontram e os nossos impactos vão impactar toda a rede", finaliza Anna.