Com a maior produção de licuri do país, segundo dados do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), a agricultura familiar baiana está se destacando no mercado brasileiro pela grande variedade de produtos feitos a partir do “coquinho do sertão”. Em Capim Grosso, localizado no território Bacia do Jacuípe, na Caatinga, as famílias da Cooperativa de Produção da Região do Piemonte da Diamantina (COOPES) extraem, cortam, quebram manualmente e fazem a limpeza do fruto. A partir daí, o licuri é processado pela COOPES em sua agroindústria e é utilizado para produção de azeite, biscoitos, doces e artesanato. Ele ainda pode estar presente na cocada, cerveja e até em cosméticos.
“Da casca externa, que é a biomassa, a cooperativa pode utilizar como lenha para caldeiras ou confecciona briquetes para vender para padarias e pizzarias das cidades vizinhas. Da amêndoa, que é a parte oleaginosa, são feitos vários produtos alimentícios e cosméticos. Esses produtos alimentícios são vendidos em redes de restaurantes, delicatessen, lojas de conveniências e outros. Para a linha de cosméticos, a cooperativa vende o óleo extraído especificamente para esses produtos que são vendidos nas indústrias, atualmente a principal cliente é a L’Occitane, empresa francesa de cosméticos”, conta o coordenador de Relações Institucionais da COOPES, Valdivino Araújo. A organização conta com mais de 180 cooperados atualmente, e todos complementam sua renda com outras atividades econômicas do sistema agroecológico.
O sistema agroextrativista do licuri ganhou reforços por meio de políticas públicas rurais do Governo do Estado. Somente no município de Capim Grosso, a chamada pública ATER Biomas da Bahia, da Superintendência Baiana de Assistência Técnica e Extensão Rural (Bahiater), vinculada à Secretaria de Desenvolvimento Rural (SDR), já está alcançando 1.138 famílias, que, além do licuri, estão inseridas na bovinocultura, avicultura, suinocultura, caprinocultura, horticultura e fruticultura.
Durante visita técnica da Bahiater ao território, as potencialidades e demandas do licuri foram debatidas com a COOPES e outras representações. A valorização da diversidade ambiental e sociocultural do sistema, o fortalecimento da formação técnica dos agentes envolvidos, o desafio da regularização fundiária e outras ações transversais foram discutidas.
“O sistema agroextrativista do licuri resgata o valor ecológico, social, cultural e econômico desta palmeira nativa da Caatinga, destacando especialmente o trabalho das agricultoras familiares. Os esforços das organizações da agricultura familiar nos municípios de ocorrência de importantes maciços da palmeira licuri vêm dando relevo para as possibilidades que se descortinaram a partir do extrativismo do coquinho de licuri. Os diversos produtos que se obtém desta importante palmeira ampliam o horizonte de geração de trabalho e renda, especialmente das mulheres e da juventude do campo. O diálogo em Capim Grosso vem inaugurando e projetando possibilidades de novas ações na Bahia”, destaca o assessor técnico da Bahiater Luís de Lima.
Outras instituições alinhadas na discussão em torno do licuri são o Consórcio Intermunicipal da Bacia do Jacuípe, a Universidade do Estado da Bahia (UNEB) e Companhia de Desenvolvimento e Ação Regional (CAR), além da Associação de Pequenos Produtores de Jaboticaba (APPJ) e da Cooperativa Ser do Sertão (COOPSERTAO), entidades parceiras da Bahiater na execução do ATER Biomas da Bahia. A chamada pública leva a agricultoras e agricultores familiares serviços de assistência técnica e extensão rural nos três biomas da Bahia: Mata Atlântica, Caatinga e Cerrado, com o objetivo de promover o desenvolvimento sustentável por meio da produção de alimentos saudáveis e a melhoria da renda de famílias que vivem no campo, como é o caso das comunidades Aroeira, Barro Vermelho, Caiçara, Cambueiro, Colônia, Curral de Pedra e Fazenda Nova, em Capim Grosso, que recebem assistência técnica de qualidade do Governo do Estado.
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