Por: Walter Casa Grande-Uol
20/07/2022 - 13:08:54

  Sou muito crítico à alienação dos jogadores brasileiros há muito tempo, porque venho da Democracia Corintiana e sei bem qual a importância dessas vozes no país do futebol. Mas a geração atual é muito egoísta, porque só se manifesta quando é por interesse próprio, sem levar em consideração a situação do país nos últimos anos.

A nossa democracia está sendo covardemente atacada e temos ameaças de golpe diariamente. Não acredito que todos os jogadores brasileiros de futebol concordem com isso.

 

Nos últimos anos, tivemos diversas provas desse egoísmo social. Começando pela pandemia: pouquíssimos jogadores se posicionaram em relação à importância das vacinas, do uso de máscaras e da segurança do isolamento social. E, ainda pior, boa parte se comportou muito mal. Diversos jogadores foram vistos em festas clandestinas, cassinos (que, não custa lembrar, são estabelecimentos ilegais no Brasil), sem máscaras... enfim, dando apenas maus exemplos.

 

Depois veio o absurdo da Copa América de 2021, que seria realizada na Argentina e na Colômbia. Mas os dois países desistiram de sediar a competição exatamente por causa da covid-19, situação que ainda foi agravada pela crise política colombiana. Mas aí o ex-presidente da CBF, Rogério Caboclo, depois acusado de assédio moral e sexual, recorreu a um forte aliado contra a nossa saúde. E trouxeram a competição para cá.

 

Enquanto morriam por dia umas duas mil pessoas, a bola iria rolar e os jogadores, sem nenhuma atitude, aceitaram entrar em campo. Até fizeram um manifesto que quase ninguém lembra, de uma só palavra naquele pedaço de papel. E com a boca fechada, jogaram bola, com a certeza de que ganhariam o título, o que não aconteceu. Perdemos de 1 a 0 para a Argentina na final, e de 7 a 1 para a ignorância. Eles deveriam ter tido atitude, e não um pedaço de papel.

 

Nos últimos meses, calaram-se sobre os ataques aos ônibus dos times, ameaças de morte às suas famílias e, agora, invasão de campo. E os jogadores? NADA!

 

A situação mais constrangedora foi o silêncio no caso Robinho, condenado a nove anos de prisão na Itália por estupro. Nenhum jogador mostrou solidariedade à garota que quase virou vilã dessa história. E olha que muitos são casados e têm filhas. Mesmo assim, nenhuma palavra.

 

Agora estão se manifestando com razão: lutar pela classe é um direto de todo trabalhador. Só que, antes disso, alguns mostraram solidariedade ao jogador Lucas Crispim, afastado pelo Fortaleza porque, mesmo com mais uma derrota do seu time, decidiu fazer sua festa de aniversário. Achei a punição absurda, mas o que me incomoda é que por causa do divertimento, alguns se manifestam.

 

Róger Guedes, do Corinthians, e Rodinei, do Flamengo, protestam contra a Lei Geral do Esporte, que muda direitos trabalhistas

 

Neymar puxou a fila dos revoltados com essa situação, mas é óbvio que a sua revolta pelo colega é porque ele, nos últimos anos, fez muita festa e jogo de pôquer. Gols decisivos e importantes, NADA!

 

(Vamos lá: a vida do jogador de futebol atual é muito desgastante, apesar de os atletas ganharem muito bem, e merecidamente. Eles têm todo o direito à diversão, inclusive com a família, embora alguns pensem que eles deveriam viver da casa para o campo e do campo para casa.)

 

Todos têm o direito ao entretenimento, mas os jogadores deveriam se preocupar também com o que está acontecendo na sociedade. E aí seria injusto, da minha parte, não destacar Richarlison (agora no Tottenham) e Richarlyson (agora comentarista), além do ótimo centroavante do Santos, Marcos Leonardo, que defendeu o Cássio de uma agressão covarde na Vila Belmiro.

 

Espero que as coisas comecem a mudar em breve. Que os nossos jogadores percebam a importância de serem defensores da democracia e de se colocarem como bons exemplos. Chega de racismo, homofobia e machismo na nossa sociedade, e nos nossos estádios também.

 


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